Rino Abbondi, sócio responsável pela vertical de Supply Chain e Operações
Entre os diversos impactos causados pela pandemia e pelo isolamento social, além do que diz respeito à saúde das pessoas, está a mudança nos hábitos de consumo da população. Com as restrições de circulação e o comércio físico fechado (shoppings e lojas de rua), muitos brasileiros migraram para compras pela internet, o que gerou um crescimento acumulado de mais de 73% nas vendas via comércio eletrônico durante o ano de 2020, segundo índice desenvolvido pelo Comitê de Métricas da Câmara Brasileira da Economia Digital (camara-e.net) em parceria com o Neotrust.
Mais do que evidenciar a necessidade da transformação digital como peça-chave para o sucesso dos negócios no longo prazo, a pandemia mostrou que essa quebra de paradigma é essencial para a própria sobrevivência das empresas no curto prazo.
Abrindo novos canais de venda
Do dia para noite, diversos estabelecimentos foram forçados a baixar as portas por conta da pandemia. Seus negócios, que dependiam de um canal de venda único e que estavam alicerçados no contato físico com os consumidores, foram inviabilizados. Este é o caso, por exemplo, de restaurantes, bares e lojas de bens de consumo duráveis.
Com isso, a única alternativa para atender os clientes passou a ser a venda on-line com entrega residencial. Entretanto, muitos negócios não estavam preparados para este tipo de operação, visto que ela exige diferentes processos, tecnologias, organização, infraestrutura logística e competências; desde a apresentação do produto, passando pela venda em si, até culminar na entrega ao consumidor final.
Neste contexto, o e-commerce é, sem dúvida, um facilitador para empresários e executivos que precisam atender essas novas demandas geradas por novos hábitos de consumo e compra. Mas é preciso levar em consideração alguns fatores na hora de se aventurar nesse novo canal de vendas.
Implantar uma loja virtual exige um investimento que nem todos os empreendedores têm condições de fazer, principalmente no momento em que estão descapitalizados. Por isso vale a pena considerar o ingresso no mundo do e-commerce de forma indireta através de marketplaces, que nada mais são do que uma espécie de shopping centers virtuais. Exemplos bastante conhecidos são o Mercado Livre, Amazon, Americas.com e o Magazine Luiza. Isso sem contar os aplicativos e plataformas de delivery, como o IFood e Rappi.
A vantagem de começar pelos marketplaces é que eles facilitam a implantação do modelo de vendas on-line: aproveita-se a visibilidade dessas plataformas muito difundidas e confiáveis para começar a operação de e-commerce na rede, alavancando o investimento em comunicação e marketing dessas empresas. Para quem precisa de rapidez e flexibilidade neste momento, é uma alternativa que deve ser considerada.
Entretanto, essa agilidade tem seu preço, visto que é cobrada comissão sobre as vendas, que deve ser considerada na avaliação do novo modelo de negócio e entrar na sua planilha de custos. Adicionalmente, não há acesso a base de clientes, o que cria uma dependência estratégica com esse parceiro, além da concorrência acirrada dentro da própria plataforma, que trabalha com diversas empresas do mesmo setor.
No longo prazo, a criação de um site e/ou plataforma de e-commerce próprios é vantajosa para empresas de muitos setores. Ao desenvolver uma loja virtual oficial, em contraponto ao marketplace, consegue-se criar campanhas de fidelização, conhecer e ter acesso direto aos clientes, entender e mapear seus hábitos de consumo, além de financeiramente eliminar a comissão sobre as vendas, por exemplo.
A tendência do omnichannel (multi-canalidade)
Essa diversificação de canais de vendas e a necessidade da transformação digital dos negócios, para acompanhar os novos hábitos de consumo da população, configura um dos maiores desafios do Supply Chain nos dias atuais: como acompanhar essa tendência de digitalização do mercado e evolução para o omnichannel.
Conceitualmente, o omnichannel pode ser definido como a convergência de diferentes plataformas e canais de vendas on-line e off-line com o objetivo de aprimorar a experiência do cliente com marcas e/ou produtos.
Por isso, podemos dizer que este modelo de atendimento busca responder as demandas de clientes por meio de uma experiência de compra mais completa e com menos barreiras entre os mundos físico e virtual.
Entretanto, adequar a operação para este novo modelo de atendimento requer mudanças profundas na gestão de Supply Chain, que vão desde a completa integração das áreas, passando pela gestão de estoques até o monitoramento do transporte que fará a entrega para o consumidor final.